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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Uma Bancada da Pesada e os Guardiões da Agrobiodiversidade

No Brasil, a chamada Bancada Ruralista possui um contingente radical e militante de 214 deputados e 14 senadores. Quase um exército. Esta turma de colarinho branco (desculpem o termo em desuso) elege-se com o “aval” de multinacionais de sementes e agrotóxicos.

É deste modo, respaldados por uma Bancada no Congresso e no Senado da República, que tais empresas obtêm passagem e hegemonia para os seus negócios privados (muitas vezes nocivos à saúde pública). O Brasil, não por acaso, é o país mais PERMISSIVO do mundo em relação a agrotóxicos proibidos na União Europeia e nos Estados Unidos, por exemplo. Somos também um dos “campeões” em matéria de transgenia.

Imagem de latuffcartoons.wordpress.com
Foi publicado no Diário Oficial em 30.10.2013 um cronograma para rastreabilidade de resíduos de agrotóxicos em vegetais. Isto é ao mesmo tempo uma boa e uma má notícia. Tal cronograma não surge sem algum espanto sobre a “fragilidade” da fiscalização vigente no país e o decorrente risco ao que se expõe à população em relação à sua SEGURANÇA ALIMENTAR.

Nesse sentido é urgente que seja aprovado o PL 99/2013 de autoria da deputada Marisa Formolo, sobre a rotulagem na exposição de produtos com agrotóxicos nas indústrias e supermercados. As caixas ou embalagens de produtos que sofreram aplicação de agrotóxicos devem ser identificadas, tal como ocorre com os transgênicos e os produtos orgânicos. Mas, infelizmente, a matéria da PL 99/2013 está parada sem previsão de avanço no Legislativo. Ocorre que o deputado Frederico Antunes, relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mantêm o texto preso por pressões de entidades como Farsul, Fetag, Fecomércio e Fiergs. O Rio Grande do Sul, nos últimos anos, supera o resto do Brasil em má aplicação de agrotóxicos.

Um parêntese: fora os legalizados no país há o problema dos agrotóxicos ilegais que entram como contrabando. Uma notícia recente, conforme matéria do Jornal Extra Classe (novembro/2013) é a de que a Polícia Federal cumpriu mandados de prisão, em setembro, durante a Operação Ceifa. O objetivo foi o de desarticular uma rede de contrabando de defensivos agrícolas ilegais comprados em veterinárias do Uruguai. Os problemas vão dos danos à saúde dos consumidores ao impacto ambiental potencializado pela aplicação equivocada até o descarte inapropriado de embalagens e resíduos destes defensivos ilegais. A área de atuação da PF foi em cinco cidades gaúchas: Guaíba, Santa Cruz do Sul, Morrinhos do Sul, Bagé e Jaguarão.

Voltando à Bancada Ruralista, verifica-se que esta força política, além de ser responsável pela permissividade das leis brasileiras sobre agrotóxicos e transgenia, também procura sistematicamente interferir nos direitos adquiridos sobre demarcação de terras para os povos tradicionais na Constituição de 1988.

Seus representantes, inclusive, ignoram ou contradizem dados do IBGE: “Segundo o IBGE, a agricultura familiar, que produz 70% da nossa comida, ocupa apenas 30,5% da área total dos estabelecimentos rurais do país. Ao passo que todo o restante fica com os latifúndios e a monocultura, prioritariamente soja, cana e gado.”

MATRIZ GENÉTICA
 
Trecho da excelente matéria Guardiões do Futuro do caderno Correio Rural – do Jornal Correio do Povo – 17 de novembro de 2013: “O futuro da agricultura pode estar nas mãos de uma minoria que planta em área restrita, colhe pouco e está preocupada apenas com a subsistência. É em poder dos escassos povoamentos indígenas presentes no Rio Grande do Sul que está a matriz genética dos grãos que, em escala comercial, elevam o PIB gaúcho ano após ano.  A relevância desses guardiões do patrimônio biológico vegetal está exatamente na rusticidade e tradição no manejo, técnicas que permitem encontrar, em pleno século XXI, grãos crioulos similares aos cultivados há gerações. Resguardar esse tesouro não é tarefa fácil (...).”

Certamente que não. Sobre o assunto, numa declaração veiculada nessa mesma matéria, o presidente da Farsul Carlos Eperotto argumenta: “Desde 1.500, não considero índios como agricultores. Não vai ser no paiol de qualquer índio que estaremos a guardar as sementes.”

Apesar de tudo, existem iniciativas em apoio destes povos e da sua riqueza como guardiões da matriz genética das nossas sementes. A matéria continua: “(...) Recentemente, a Embrapa iniciou trabalho junto a indígenas por meio de acordo de cooperação técnica com a Fundação Nacional do índio (Funai). O objetivo é valorizar os responsáveis pela guarda e circulação dessa AGROBIODIVERSIDADE, identificar as limitações no que se refere a sementes e ajudar no planejamento das áreas verificando a fertilidade do solo. Só a Embrapa Clima Temperado está atendendo oito aldeias mbyá guaranis e caigangues na região de Pelotas.”.

De 25 a 28 de novembro ocorre o 8º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). São palestras e mais de 40 oficinas na PUCRS e no Clube Farrapos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Saneamento Básico Brasil/Uruguai – Um Exemplo de Civilidade

Na primeira semana de novembro, em viagem a Montevidéu para uma série de encontros políticos, o governador Tarso Genro assinou o primeiro projeto binacional de saneamento básico da história do MERCOSUL. Com financiamento do Focem (Fundo de Convergência Estrutural do Bloco) de sete milhões de dólares, o projeto que une Aceguá (Brasil) – Aceguá (Uruguai) através da Corsan (RS) e OSE (Obras Sanitárias do Estado) do Uruguai será viabilizado. Segundo Marcel Frison, Secretário de Habitação e Saneamento, este projeto representa um marco nas relações internacionais do MERCOSUL: “Romperemos as intrincadas teias das zonas de fronteira em nome da qualidade de vida para povos irmãos.”

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Proposta de Ampliação da Estação Ecológica do Taim



A Proposta de Ampliação da Estação Ecológica do Taim vem tendo seu processo conduzido pelo Conselho Consultivo da Reserva desde 2008, através de contratação de estudo fundiário da área da unidade. Em 1978, quando a região do Taim (“Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico”) foi decretada como de utilidade pública pelo Presidente da República, possuía uma área de 33.815 hectares contra os atuais 10.764 hectares protegidos.



Entre os motivos da Proposta de Ampliação da Estação Ecológica do Taim está o da proteção do seu Patrimônio Cultural. Esta região foi palco dos Campos Neutrais – Tratado de Santo Idelfonso (1777) entre portugueses e espanhóis: “(...) uma faixa desabitada de terra que se estendia dos banhados do Taim ao Arroio Chuí, de forma a evitar um confronto direto entre os colonizadores.” Hoje a região serve para o plantio de arroz e criação de gado; a plantação de espécies exóticas como Pinus spp e Eucalyptus spp (com alto poder dispersivo) e a pesca artesanal que afeta a ictiofauna da ESEC do Taim. Além do impacto da rodovia federal BR-471, que cruza a região, causando o atropelamento de animais. 

“Amostras do ecossistema pampa podem ser conhecidas em suas formas mais exuberantes, preservadas e mantidas afastadas da pressão que os sistemas de produção agropecuária exercem sobre esse tipo de ecossistema. 

Imagem de: www.icmbio.gov.br

Esta Unidade de Conservação (UC) destaca-se pelo seu valor como patrimônio genético e paisagístico, devido a sua grande diversidade biológica e ecossistêmica, e por ser um dos remanescentes deste tipo de ecossistema. O banhado do Taim possui uma função muito importante para a manutenção do equilíbrio ecológico da região. Essas funções incluem a produção de alimento, a conservação da biodiversidade, a contenção de enchentes e o controle da poluição. Os processos mais importantes nesse ecossistema são a geração de solo, a produção vegetal e a estocagem de nutrientes, água e biodiversidade (NEMA 2008.)”


Leia o Resumo Executivo da Proposta de Ampliação da Estação Ecológica do Taim, que conta com um excelente arquivo de fotos:

sábado, 16 de novembro de 2013

O PIB Verde e uma das Bicicletas mais caras do mundo



Imagem de massacriticarg.wordpress.com
A necessidade de um indicador de sustentabilidade vem sendo uma reivindicação internacional. Esse foi o tema central da 2º Rio Climate Challenge, uma conferência promovida pelo Instituto OndAzul, que ocorreu entre final de outubro e início de novembro. O chamado PIB Verde é uma ideia lançada pela ONU na Rio+20 em 2012. Funcionaria como um indicador de sustentabilidade refletindo a riqueza real dos países e a capacidade de crescimento destes, considerando os seguintes fatores:

  • Recursos naturais;
  • Educação;
  • Qualidade de vida da população.
Considerar estes três fatores como pilares de desenvolvimento (real) das nações, é mais uma ideia acertada da ONU. Uma ideia. Na prática, tais indicadores operariam sobre as políticas públicas dos países com a mesma ineficácia de outros processos guiados pela ONU como o Protocolo de Quioto ou o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TPN) – este último assinado por 189 países.

No Brasil, um caso isolado em cima de uma notícia dessa mesma semana. Enquanto as manifestações de junho ainda retumbam nos ouvidos do “Gigante”, um levantamento da Consultoria IHS Automotive no Brasil constata que o imposto sobre o transporte de bicicleta é 40,5%, em média, contra 32% para carros. No caso do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): a alíquota do tributo federal é de 3,5% para carros populares contra 10% para bicicletas (incluindo toda a cadeia: peças, matéria-prima, etc.)
É um dado bastante sintomático. Interessante.
Mobilidade urbana, que é um dos fatores determinantes para a qualidade de vida da população, só ganhou relevância no Governo Federal, ainda que por motivos eleitoreiros, após as manifestações de junho. As ruas já deram o recado: não são “apenas” os 20 centavos da passagem do “busão”. O buraco é muito mais embaixo. Não há investimento, por exemplo, em ciclovias conectadas, permitindo o trajeto efetivo de trabalhadores e estudantes nos grandes centros urbanos do país.
 Em 2014, quem sabe, veremos cartazes nas manifestações reivindicando ciclovias e redução de impostos para as bikes.

sábado, 2 de novembro de 2013

Ruralista: você não nos alimenta e não nos representa! #baixaabolaruralista

Vídeo disponível na internet baseado em informações oficiais da ONU, IBGE e Governo Brasileiro, ilustra didaticamente o panorama da agricultura no país. Um dado importante é que a agricultura familiar produz 70% dos alimentos efetivamente consumidos pela população, sendo que esta ocupa apenas 30,5% do território rural. Enquanto isso, possuindo a maior fatia do território rural, os atores do chamado agronegócio destinam latifúndios à pecuária, produção de soja e cana, prioritariamente. Assista o vídeo. #baixaabolaruralista

 



Aproveitamos para indicar a leitura de um texto de Najar Tubino: "Bancada ruralista: tudo pela terra" publicado na Agência Carta Maior. Ele faz um verdadeiro Raio-X da Bancada Ruralista na política brasileira.

"É a maior bancada do Congresso Nacional. Oficialmente conta com 162 deputados e 11 senadores, sob a sigla de Frente Parlamentar da Agropecuária. Para se registrar como frente é necessário um terço dos congressistas (198). Porém, a bancada conta com uma legião de adeptos de última hora. A pesquisadora da USP Sandra Helena G. Costa pesquisou a vida de 374 deputados e senadores para fazer a tese “Questão agrária e a bancada ruralista no Congresso Nacional”. Inclusive com o histórico familiar e a participação na política brasileira na formação das oligarquias regionais. Sem contar 23que não tem nenhum imóvel registrado ou qualquer ligação empresarial com o agronegócio, os restantes 351 declaram possuir 863.646,53 hectares. Os dados foram consultados nos arquivos do TSE e no cadastro do INCRA."