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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Serras da Desordem

O filme Serras da Desordem (2006), de Andrea Tonacci, reconstitui a trajetória do índio Carapiru que escapou com vida do massacre da sua aldeia Avá-guajá por pistoleiros do Maranhão em 1978. Carapiru transitou pela floresta durante dez anos até ser encontrado na Bahia, a dois mil quilômetros de onde ocorreu o massacre, completamente nu, apenas com um arco e flecha, um cesto e sem falar nenhuma palavra do português. Ele foi acolhido por uma comunidade local e depois levado para Brasília pelo sertanista Sydney Possuelo.

Numa linha de estranhamento e experimentação entre documentário e ficção o filme do ítalo-brasileiro Andrea Tonacci (Bang bang, 1971) pretende e consegue projetar um olhar generoso sobre a diversidade cultural do Brasil sem precisar pregar qualquer tipo de conscientização didática a respeito.  Um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, o filme é um documento belo e trágico de um caminho sem volta que merece do expectador um olhar diferenciado. Trata-se de uma oração silenciosa sobre respeito e solidariedade.  Uma experiência que vale a pena!

domingo, 12 de maio de 2013

MEIO E FIM



Por Juremir Machado da Silva
Correio do Povo – 03.05.2013
juremir@correiodopovo.com.br

Harpagão, personagem de Molière em “O Avarento”, queixa-se: “Maldito dinheiro, como és ruim de guardar”. Alguns têm um desejo frenético de multiplicá-lo. A qualquer custo. Tem gente, por demais apegada ao “desenvolvimento econômico”, que não consegue perceber a evolução dos costumes. A relação entre meio ambiente e empreendimentos de toda a sorte se alterou. Aquilo que era banal – derrubar árvores pelo “bem” da cidade ou instalar um condomínio de luxo quase dentro de um rio ou do mar – já não é mais aceito como progresso. O meio ambiente tornou-se um fim em si. Estão sob fogo cerrado as maneiras honestas ou desonestas de lidar com a natureza.

A Operação Concutare, pelo jeito, veio refrescar a memória dos mais resistentes ao novo quanto aos atalhos. Nessas situações, os suspeitos de corrupção quase sempre descobrem as agruras das prisões, ainda que por pouco tempo, em primeiro lugar. Os corruptores normalmente ficam para depois e, no mais das vezes, perdem a oportunidade de passar algumas noites em lugares emocionantes como o Presídio Central de Porto Alegre. Acontece que os corruptores podem integrar aquele seleto grupo que brada contra a impunidade em certos casos e trata de driblar alei em outros por achar que sonegar impostos é uma obrigação, dado que o Estado gasta mal e devolve pouco, ou que corromper agentes públicos em busca de licenças  ambientais mais expeditas é uma missão a serviço do crescimento por considerarem as preocupações ambientais como devaneios de utopistas desocupados.

A proteção ao meio ambiente tornou-se um dos valores mais caros do nosso tempo. Só a especulação imobiliária, certos políticos, muitos burocratas e uma categoria de empreendedores, desses que adoram falar em vanguarda da retaguarda, comportando-se não como pioneiros do progresso, mas como atrasados do pioneirismo, ainda não notaram a grande transformação no imaginário social. Uma fileira de árvores, mesmo recente, pode valer mais do que uma nova pista para carros. A margem de um curso de água pode ficar muito mais bonita vazia do que cheia de prédios. Viver de frente para um rio pode não significar encher a sua borda de concreto, mas mantê-la limpa, arborizada, segura e livre para passeios e corridas.

O progressista do século XIX e de boa parte do século XX via a natureza como um espaço a preencher e a tornar lucrativo. Quanto mais bela fosse uma paisagem, mais deveria ser transformada pela mão humana nem sempre hábil. É inegável que belas cidades foram construídas. Também é irrefutável que lugares maravilhosos foram destruídos. Chegamos ao limite. A sensibilidade agora é outra. Mas alguns atrasados do pioneirismo resistem. Os mais afoitos nem sempre se constrangem em usar métodos indecorosos para atingir os seus fins ultrapassados.

Os tempos estão mudando. Corruptores e corrompidos já dividem celas. No futuro, serão castigados com aulas de ecologia. Os mais empedernidos, porém, olham os ambientalistas com desdém e chegam a citar outra tirada de Harpagão: “Aquela rebeldia, meu tudo, tenha fé que a de passar-lhe um dia”. Não veem que passou o tempo da dominação implacável da natureza, pois ela se vinga. A natureza dos projetos é que terá de mudar. Que clima!

sábado, 4 de maio de 2013

Um Plano de Bacias para o Rio dos Sinos

Foto: http://sosriodossinos.zip.net/
A bacia do Rio dos Sinos inclui 32 municípios densamente povoados, sendo que apenas cerca de 8% da população vive em zona rural, e percorre 190 quilômetros abrangendo 3.800 Km2. Faz parte da bacia hidrográfica do Lago Guaíba, que deságua na Lagoa dos Patos, e somente na região Metropolitana de Porto Alegre, 21 destes municípios são banhados pelo rio dos Sinos, que enfrenta um descontrole histórico. 

O que denuncia este quadro é não somente o alto nível de poluição como também as tragédias ambientais recorrentes, que o colocam num ranking de poluição muito próximo do rio Tietê, que mantém um projeto de despoluição (continuado) pela prefeitura de São Paulo.

Cargas poluentes de esgotos e indústrias, como no caso de 2006, quando uma das maiores tragédias ambientais no RS levou a morte de mais de um milhão de peixes em função do despejo de resíduos tóxicos através, provavelmente, dos curtumes e demais indústrias das cidades de Estância Velha e Portão.

A poluição industrial, juntamente com uma alta carga de esgoto doméstico e a urbanização desordenada da população em favelas, constitui um problema vital para os municípios que constituem a bacia do rio dos Sinos resolverem de forma integrada.

Nesse sentido foram criados tanto o Pró-Sinos quanto o Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. No dia 15 de abril os secretários de Meio Ambiente das cidades que pertencem à bacia dos Sinos reuniram-se em Novo Hamburgo.

Foto: Gabriela Loeblein Manoel - http://www.jornalnh.com.br
O objetivo dos secretários municipais foi o de finalizar um plano de bacias para ser entregue ao governo do Estado até dezembro de 2013. Nele será mapeada toda a trajetória do rio, de Canoas até a nascente do manancial em Caraá. Cada município deve fazer a sua parte no plano de bacias e captar individualmente os recursos federais via Ministério das Cidades.

Vale destacar, como alerta, o exemplo do Projeto Pró-Guaíba, criado na década de 90 e abandonado pelos sucessivos governos. Portando, somente a transparência e uma ampla participação da sociedade civil vão manter vivo o objetivo do Pró-Sinos e do Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos.

Quem tiver informações a respeito deste assunto pode nos manter informado.