Entrevistamos José Henrique Fardin (Rico), autor de VERDE-MUSGO – Confissões de um Ecoguerrilheiro, livro de ficção sobre a vida de um jovem guerrilheiro verde.
O livro foi lançado em 2010, de forma independente pelo autor.
O livro foi lançado em 2010, de forma independente pelo autor.
"Aquecimento global, poluição, desmatamento, extinção das espécies... Qual atitude ter ante o anunciado cataclismo ambiental?
A maioria dá as costas ou leva uma vida mais ecologicamente correta para amenizar a culpa. Alguns, porém, entendem que a Terra não pode esperar pela elevação da consciência do homem, por isso deflagram uma verdadeira guerrilha ambiental contra todos os agentes poluidores. Para um ecoguerrilheiro, não há tempo para protestos, abaixo-assinados virtuais ou denúncias em órgãos públicos, muitos deles corruptos. Para um ecoguerrilheiro, é tempo de batalha."
ENTREVISTA:
AmbienteMaiss: Este é
o seu segundo livro publicado. Qual o ponto de conexão entre “Verde Musgo
Confissões de um ECOguerrilheiro” e “A Compaixão Pelo Rato - Romance sobre o
Tibete”, publicado em 2008, ambos de forma independente?
José Henrique Fardin: É paradoxal, pois ambos guardam uma
distância muito grande um do outro ao mesmo tempo em que possuem o mesmo
sentimento de comprometimento com certas causas que seus personagens expressam.
Te diria então que o ponto de conexão entre eles está na obstinação de seus
personagens, o que acaba sendo a base da trama em cada um deles.
AmbienteMaiss: Por que
a opção de publicar independente, e não por uma editora?
José Henrique Fardin: Porque filho meu cuido eu, não sei se me
entende. Além disso, é uma ilusão do escritor achar que ele dependente de
editoras para publicar seus livros. É mais trabalhoso publicar de forma
independente, mas plenamente possível.
AmbienteMaiss: Como
surgiu o interesse pela questão ambiental?
José Henrique Fardin: Minha experiência com a questão ambiental
vem desde criança, mais precisamente desde que me apaixonei pela natureza. Minha
ecoguerrilha fica adstrita à escrita, a qual, aliás, me salvou de um sofrimento
horrível que eu sentia em face da destruição da Terra. Escrever esse livro foi
libertador. Ele me alçou a um patamar interior mais confortável, de maior
compreensão sobre o que realmente está acontecendo e isso me acalmou muito.
AmbienteMaiss: O que está acontecendo então na sua visão?
José Henrique Fardin: Um
processo absolutamente normal e, até certo ponto esperado, na relação histórica
entre a humanidade a o planeta Terra. Observe os estágios da relação entre um
filho e uma mãe e você verá que está acontecendo exatamente o mesmo entre o ser
humano e a Terra. Um bebê suga a mãe sem
qualquer preocupação consciente de retorno. Uma criança quase sempre quer impor
sua vontade sobre a da mãe. Vejo que a humanidade está na fase do despertar da
adolescência responsável madura, começando a agir com maturidade e respeito,
rumo a um comportamento adulto que fará de tudo para proteger a Terra. Tal como
nós, adultos, com relação aos nossos pais, numa clara inversão de papéis. Mas
isto ainda num futuro distante. Ainda haveremos de sugar muito a Terra. O
processo de regeneração já começou, mas como tudo em termos macros, levará
décadas e décadas para revertermos o quadro até que a Terra comece a ganhar
mais do que perder. Por isso, não devemos nos culpar demasiadamente porque somos
adolescentes sem muita consciência.
AmbienteMaiss: Uma
humanidade púbere?
José Henrique Fardin: Sim, ela é. Mas não me agrada esse pensamento
que demoniza o ser humano e o vê como uma verdade praga no mundo. Afinal, de
quem é a culpa por existir 7 bilhões de pessoas que querem comer, se vestir,
viajar, comprar um presente, etc? Ninguém conseguirá apontar um culpado.
AmbienteMaiss: Verde
Musgo – Confissões de um ECOguerrilheiro retrata um personagem obcecado pela
salvação do planeta, por justiça ambiental. O personagem principal acaba por
encontrar em Carolina, uma dançarina as voltas com raves e drogas sintéticas,
um novo sentido na vida. Mas essas coisas não se encontram desconectadas.
Fale-nos sobre essa suposta “contradição”.
José Henrique Fardin: Essa aparente contradição é justamente a
tensão da trama, mas ela cessa ao final quando certas verdades sobre Carolina
são descobertas por Verde Musgo. Isso lhe permite uma compreensão maior sobre
sua obsessão por uma garota que a seus olhos se parece uma verdadeira Chernobyl
ambulante.
AmbienteMaiss:
Ecoguerrilha é o mote do livro. Que tipo de “ecoguerrilha” você, como advogado
e escritor, considera viável?
José Henrique Fardin: Esta é uma questão subjetiva. Cada um deve
saber como agir diante desta problemática. Vai muito da importância que cada um
dá ao planeta. Em se tratando de atuação, sou apenas um amante da natureza, com
predileção a conjugar a questão ambiental com a espiritualidade. Eu não advogo
método algum, pois como disse cada um deve saber como agir. Embora seja contra
a violência como caminho de luta ambiental, entendo perfeitamente a dor que os
ecorradicais sentem e a opção por um caminho mais aguerrido. Eu já senti essa
raiva. O livro me livrou dela.
AmbienteMaiss: Em
certo sentido toda a civilização se encontra refém, consciente ou não, do
aspecto socioeconômico em torno dos combustíveis fósseis. Não somente o Oriente
Médio, mas países como a Brasil e Venezuela, citando como exemplos na América
do Sul, têm enorme potencial em petróleo, ao passo que se encontram, sob vieses
diversos, sacudidos por manifestações e distúrbios sociais. Como você tem visto
este quadro?
José Henrique Fardin: É a tensão natural que sempre existiu e
sempre existirá entre grupos de diferentes interesses. É possível prever um arrefecimento em face das
novas tecnologias. Mas sempre haverá esta batalha entre os que exploram a Terra
e os que apenas querem conviver com ela.
AmbienteMaiss: Embora o personagem Verde-Musgo
esteja situado no Rio de Janeiro, existe uma passagem do livro onde ele toma um
banho de esgoto no Guaíba. Na década de noventa o Pró-Guaíba previa, entre uma
série de programas de recuperação e conservação, obras de saneamento básico na
região hidrográfica de 86 mil quilômetros quadrados, nove bacias, cerca de 270
municípios e sete milhões de habitantes. Mas foi boicotado pelos sucessivos
governos e definitivamente suspenso ainda no primeiro módulo, apesar da
garantia de recursos. Hoje pagamos por isso. Atualmente o Projeto (PISA) da
prefeitura pretende ampliar de 27% para 77% o tratamento de esgoto na capital.
Mas parece um projeto isolado, sem levar em conta toda a região hidrográfica,
ao contrário do Pró-Guaíba. Como cidadão porto-alegrense como você analisa esta
situação?
José Henrique Fardin: Com
lamento, porque perdemos a maior preciosidade da cidade, porém com esperança
também porque sei que ainda nos banharemos no Guaíba do centro da cidade,
comeremos seu peixe e tomaremos da sua água sem qualquer filtragem.
AmbienteMaiss: Um dos
pontos altos do livro é o “refúgio” do personagem na Amazônia, para uma
“purificação” com a namorada Carolina. Você conhece de perto a questão
amazônica? Há o desmatamento por parte de madeireiras ou com fins
agropecuários, além de toda situação das demarcações de terras indígenas e da
extração de recursos pelo capital internacional. Qual a perspectiva, no seu
ponto de vista, sobre todas estas questões que envolvem este suposto “pulmão do
mundo” que é a Amazônia?
José Henrique Fardin: A
Amazônia é do mundo, logo é o mundo quem tem que tomar conta dela. Claro que
sob a gerência do governo brasileiro a partir de suas universidades,
coordenando as atividades e os interesses incidentes. Nosso país tem se
mostrado incompetente para conservar este patrimônio da Terra, da humanidade.
Somente um governo que realmente priorize a questão ambiental fará isso e,
quando isso acontecer, espero que ele seja forte o suficiente para saber
coordenar a ajuda internacional sem deixar de priorizar os benefícios que toda
a humanidade poderá ter com a exploração amorosa da Amazônia.
AmbienteMaiss: Um tema
que é tratado com certa frequência neste blog é a situação dos agrotóxicos.
Recentemente o Ministério Público Federal (MPF) solicitou a suspensão do
registro de oito agrotóxicos até que haja uma reavaliação da toxidade pela
ANVISA. Comer sem veneno está cada vez mais complicado?
José Henrique Fardin: Pelo contrário, está cada vez mais
acessível. A busca pelos orgânicos tem aumentado muito, basta ver o sucesso das
feiras ecológicas. Até os grandes atacadistas estão adotando esta prática. É um
processo irreversível. Mas ainda é tudo muito incipiente. A tendência é
crescer, o que demandará, mais cedo ou mais tarde, de uma reestruturação nos
meios de produção de alimentos, priorizando os mini e pequenos produtores
agroecológicos.
AmbienteMaiss:
Finalmente, além de novas publicações, algum projeto na área ambiental?
José Henrique Fardin: Em breve, um livro contando uma experiência
muito significativa executando um projeto de administração de resíduos que eu
criei no tempo que morei na Índia, chamado de Green Compassion (Compaixão
Verde) num mega mosteiro budista com 600 monges. Uma aventura ecológica que eu
quero partilhar com os jovens de todas as idades, especialmente os escolares.
*O Autor advoga, palestra e escreve. Também é dele o romance A Compaixão pelo Rato - O Romance da Libertação do Tibete, publicado em 2008.
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